Amamentação

A amamentação é dos actos mais profundos entre dois seres humanos. Durante a amamentação, uma verdadeira amamentação desejada por ambos (mãe e bebé) existe uma partilha de emoções que irá permanecer por toda a vida psíquica da criança. Quando não é uma verdadeira amamentação, quando a mãe sente dores de tal forma invasivas que não lhe permite desfrutar daquele momento e o concebe como algo mau ou, por outro lado, quando a mãe não deseja amamentar e só o faz porque a sociedade assim o exige (basta ver as mães que, enquanto amamentam o seu bebe fumam um cigarro ou durante todas as mamadas recusam olhar para o seu bebe) então este deixa de ser um momento a dois e perde todo o seu significado. Estudos indicam que a amamentação reforça as defesas imunitárias do bebé, no entanto quando o bebé sente que a mãe não o deseja, não consegue olhar para ele, não interage com ele enquanto o alimenta.. O que pensar desse benefício? Em alguns casos, em que ocorre uma amamentação que não é verdadeira, não será melhor recomendar a mãe que dê ao seu bebé o alimento através do biberão mas interagindo com ele? Nem todas as mães se sentem a vontade para sentir dor, amamentar trás dor.. Para o bebé, mais importante do que o leite materno (visto que actualmente a industria dos leites em pó está muito desenvolvida) é o verdadeiro alimento emocional, o amor que a mãe transmite ao filho quando cuida dele. Esse amor, sendo transmitido com a “boca na mama” ou na tetina é excelente e a melhor dádiva que uma mãe pode dar aos seus filhos.

A amamentação é benéfica para as mães do ponto de vista hormonal e também emocional. Durante os meses que amamentam aquela criança, realizam com ela algo que mais ninguém pode fazer. Numa era em que o pai dá o biberon, muda as fraldas e dá banho, aquele pode ser a única coisa em que a mãe se sente única. Penso que esta é uma ideia sem fundamento e um sinal de que aquela mulher não se valoriza. Mãe é mãe, pai é pai, avó é avó e assim por diante. A mãe tem funções específicas, a transmissão de afecto directo é a mais importante e não deve ser desvalorizada. Por maior que seja a partilha de tarefas domesticas considero essencial que os pais procurem ambos apoiar o seu bebé mas um deles deve ter o cuidado de se diferenciar para permitir ao bebé construir uma imagem mental do “humano” que cuida dele. Se num momento é loiro de olhos azuis e usa batom forte e no outro momento é moreno e com pêlos na cara vai ser confuso para ele. Com isto não pretendo dizer para só estar um presente, apenas que se organizem para criar alguma estabilidade ao bebé.
A amamentação depois dos dois anos é um tema que causa polémica um pouco por todo o mundo. Na própria comunidade científica as opiniões dividem-se: de uma forma geral os pediatras apoiam a amamentação durante o máximo de tempo possível, os psicólogos recomendam que termine antes do 2 ano de vida. O ciclo de vida da humano é realizado por etapas onde o físico e o psíquico se envolvem de uma forma semelhante à representação por imagem do DNA. Se a criança sente que a mãe precisa dela o suficiente para a chamar para a amamentação (visto ela já ter compreendido que existe outra forma de se alimentar, sendo que nesta pode já começar a ter ela própria um papel activo) pode sentir que não se pode afastar muito dela e ganhar a coragem para os primeiros passos da autonomia – começar a andar. Muitas mães que irão ler este texto irão colocar este ponto em causa, recordando que os seus filhos realizaram as etapas da locomoção dentro das idades previstas… E a autonomia emocional? Foram crianças sem receio de experimentar novas actividades ou que as iniciaram a medo (ou de uma forma abrupta, quase que transmitindo a ideia que sentiram que ou faziam “aquilo” naquele momento ou já não teriam a oportunidade de o fazer… )

Na semana passada as redes sociais divulgaram  a capa da revista americana Time, na qual se via uma mulher a amamentar uma criança de 4 anos. Infelizmente muitos técnicos não se pronunciaram, alguns chegaram a afirmar que era uma forma de reforçar os laços mãe-filho… Existe muita literatura sobre este assunto, contudo gostaria de fornecer a minha opinião tal como mo solicitaram no meu perfil do Facebook: esta amamentação não tem nada de saudável, considero-a mesmo maldosa, quase perversa. A criança da foto está numa fase do desenvolvimento psíquico em que necessita da figura do pai enquanto modelo e já se deveria ter realizado um movimento psíquico de separação da mãe. Como o poderá fazer se a mãe não lho permite? Qual a criança com 4 anos que poderá crescer e explorar o mundo se tem a mama da mãe à frente dos olhos? Infelizmente a probabilidade de (vir a) necessitar de acompanhamento psicoterapêutico é elevada..

Deixar de amamentar um filho, quando ainda se tem leite é muito doloroso do ponto de vista físico (é recomendável que o tire com uma bomba e dói.. caso contrario criam-se caroços…) mas também é difícil do ponto de vista psíquica: a relação que estabelecemos com os nossos filhos enquanto o amamentamos é única e muito gratificante do ponto de vista narcísico, todos gostamos de sentir que somos “o mundo” de alguém. Se sentir que lhe esta a ser muito difícil esse movimento poderá ter aspectos da sua vida adulta ou mesma da sua infância que deveriam ser trabalhados num acompanhamento psicoterapêutico, se desejar poderei ajuda-la!

 

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